quinta-feira, 9 de dezembro de 2010


Malditas são as teorias: desejos que moldam puramente a potência e asseguram a frustração dos atos.
Garantem fartura aos impulsos nervosos, oh sim!
São fardo e descanso.
Base para construir (em sete palmos) meus atos falhos: coadjuvantes da vontade da Deusa: o simples me ver confinada em seu seio de terra (ácida), a brincar (estática) com vermes gorduchos.

São tudo o que sei fazer.


Síndrome de Clarisse



A impotência a consumia.
Seu quarto estava monocromático, com elevada entropia.
O ventilador implodia partículas de poeira para seu pulmão silicado.
Ao andar descalça, amassava folhas rabiscadas jogadas ao chão-terraprometidadosácaros.
Não ouvia os batimentos de seu coração infame: ouvia um som digno de devaneio: o motor do ventilador e um fraco estalar ritmado de um relógio.
Os dedos se moviam sozinhos, quase uma psicografia dos lamentos não ditos.
Um rosto no papel roubava as formas de uma mulher sofrida, de olhos amargos e surpreendidos pelo esperado.
Aquela não era ela.

Era?



sábado, 20 de novembro de 2010

Ilusionismo


Pobre diabo amargurado a lamentar.
Não imaginara o curso estupidamente meandro do rio.

- Filósofos, desistam: não há razão equacionável no homem. Psicólogos, iludidos: não há como dizer o que se sente, o que se é. Palavras são invenção vã, assim como o que escrevo. Juízes, seus afortunados: ganham dinheiro por algo que se faz a todo tempo, sem restrição para quimeras sentimentais.

No fim do arco-íris há um pote cheio de dopamina e serotonina, pêsames aos que tem medo de duendes (como eu).

Com o passar dos anos fica evidente que todos aqueles contos seculares e infantis são simples lições de conduta disfarçadas que se prendem a teu subconsciente com suas garras coloridas, floridas (por que não?); então tu perdes o medo do monstro embaixo da cama, o do armário, o medo do escuro (talvez), mas o medo de duendes não te abandona: esse temor te afasta de concretizar idealizações (felicidade é escrava da serotonina, crianças).
Se julgar fosse pecado, os cristãos não desejariam o céu.
Pode-se dizer que julgamento é uma intrínseca síntese de ações: por meio dele se fere, ilude-se, pensa-se que a verdade é aquilo demonstrado por outrém, deseja-se que pensamentos sejam sólidos e brotem da mente como a flor lotus na lama do Nilo.

Pobre diabo sem poesia.
Ela está na estante, no livro, na palavra, na miragem no asfalto quente.
Mas não nele.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

...


Ser nutrida por lágrimas: arte de revirar ultra-românticos em ossos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Há feridas metafísicas, senhores...

Ópio das línguas:
saltitantes
chicoteantes do íntimo
malévolas invisíveis que aprende-se a ver.

Põem-se a trabalhar nas ausências
Nos olhos quase desatentos
Na ingenuidade dos emboços (sorridentes!)
Na mente que anseia o julgamento:
Cicuta quase inata.

Não, inata.
Não inata.
Não sei.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Venoso

Devaneio – venoso – em meu sangue.
Passageiro.
Cíclico.
Não pulsa, apenas me percorre:
sorrateira ajuda da contração de meus músculos
enquanto os espasmos dinamizam um cotidiano privilegiado.

Às vezes chegam à face.

Então me olhas.











...

sábado, 12 de junho de 2010

Semiótica do extremo




“Escrever é estar no extremo de si mesmo.” disse João Cabral de Melo Neto.

Queria ter a honra de completar seu pensamento do meu jeito, ao acrescentar que nos extremos estão as saídas de emergência, nos nossos extremos - nas extremidades do corpo...

Pode-se desandar com o balançar leve ou furioso dos cabelos ao vento: brisa irregular de pensamentos.

Pode-se desarticular com os movimentos automáticos das falanges desconcertadamente harmoniosas, rasgando o papel do sentimento, partindo a Palavra em tijolos a serem colados com sonhos.

Pode-se friccionar os pés na água fria dos medos, perder temporariamente a sensibilidade do mundo por falta de circulação de ósculos sinceros (vermelhos, pulsantes!) como forma de se preparar para andar entre pedregulhos com mais resistência.

Pode-se esperar que não o separem de tuas extremidades.


Um motivo de não aceitar sorridente a religião das controvérsias, a mutiladora de membros/liberdades.

domingo, 9 de maio de 2010

Status quo


Estou Amarga.
A saliva é a mais ácida das chuvas no céu de minha boca.
Céu de estrelas mortas por meus lamentos.

Sou mais fria e inerte que as pedras que guardo com zelo,
Mais dura que as árvores que toco,
Mais agressiva que o pássaro com tendências assassinas que crio.

Assemelho-me ao universo; mas ele, caridoso, não me supera.
Sou imbatível!
Contra mim, sempre perco as batalhas.

Encontro-me entre brumas, perdida na busca de minha Ilha particular.
Estática
Sem sensibilidade
Nadando em erros, esquecendo que não sei nadar.

Não posso clamar teu abraço,
Confabular nosso futuro entre os passos da juventude no final.
Não posso almejar nossos sussurros macabros,
Dialeto de dois estranhos unidos umbilicalmente.
Unidos por um fio de prata que nos conecta a quilômetros,
Permite o livre fluxo de energias... sem medo.

Na medida em que se desprende um pedaço de mim
um isômero afasta-se de ti, meu caro menino.
Assim sendo, fica difícil nos erguermos, não?

Creio em mudanças mesmo quando estou descrente de mim,
De meus murros em espinhos enferrujados
por minhas lágrimas - as mais básicas das tentativas de fuga,
as mais covardes das omissões.

Dessa forma tento seguir.
Com esses pés cansados, faço minha trilha na floresta dos riscos.
Às vezes em círculos,
Às vezes guiada pelo singelo progresso.

Tu és minha bússola,
Só preciso te encontrar com vida.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Subjugando o prosaico



És hermético ou finges?
Balbuciando-se incapaz, atormentando o são.

Algo percorre o labirinto interno, floresta de esferas vociferantes.
Desaveio sem validade, sem prévia, ponderação.

Timbres que dispersam a realidade sussurrando comandos imprudentes...
Saborear a iminência do caos!
O mais cuidadoso rapto de Proserpina.

Até que ponto a verdade alheia aproxima-se?

Ocultar é mais vantajoso que aparenta a água salgada que percorre a face e desidrata a alma.

Degustação

Mastigam minha indecisão, erros, obsessões, crises.
Engolem minha personalidade forte, chatice, irritação, mau humor.
Cospem o que há de melhor em mim.

sábado, 1 de maio de 2010

Castigo



Acordei em miséria pessoal.
Não, minto.
Transformei-me nela ao longo do dia vazio, desnudo, sem brisa.

O céu está tão limpo. Está desde agora lavado pelas lágrimas que derramarei em instantes.
É engraçado como meus olhos hoje descolorem a vida que desfila inconstante por mim, querendo ser notada.

Está quente, quero uma ventania. Quero uma tempestade, uma localizada para casar com meus sentimentos egocêntricos. Mas sem noite de núpcias. Quero que dure o bastante para me castigar. Abrir feridas profundas o suficiente para dilacerar os tecidos de minha alma.

Sem pesares, sem relevâncias.

Eu deveria estar fazendo algo útil.

Mais útil que sentar “ao ar livre” onde 34°C me sufocam e me desprovem do ar natural que vim buscar longe da realidade competitiva, desgastante e justa.

[...]

Pronto, voltei para ela.
Agora tudo muda.
Ambiente climatizado, legião de cerebelos desenvolvidos, sedentos por ter vez na escolha que o destino fará no final do ano.
Agora meus olhos estão menos embaçados, para não despertar a curiosidade alheia.
Se bem que já despertei ao usar uma camisa grande demais para mim, onde todos encontram escrita a frase “plante poesia”.
Pela primeira vez nesse ano não estou dando atenção a uma aula.
Estou a escrever até castigar os músculos que fazem meu garrancho surgir.
Eu mereço, esqueceu?
É a minha vontade. Livre e espontânea obrigação enquanto ser pensante.
Sinto dor. E dos mais variados tipos.
A dor física é a de menos importância, minha cabeça está habituada.
A psicológica me deixa com ânsias. Tenho nojo, nojo de mim.
É pela última que anseio meu castigo.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Diário




Diante do relógio, os minutos transformavam minha fome em agonia, meu sangue em tinta e meus devaneios em pó. Deu-me uma vontade irresistível de escrever. E seria com essa minha tinta vermelha e pulsante. Ela daria vida aos rabiscos que surgiam com os movimentos rápidos e desajeitados de minha mão direita. Por que não? Nada mais pessoal. Ela era o pouco que me restava. Literalmente pouco, como pude perceber com meus botões, enquanto um negrume escureceu minha vista, atordoando-me e oxidando meus pelos eriçados pelo frio. Aquilo deveria ser feito. E o mais rápido possível. Simples, direto, manual, sagaz: um diário.

Poderia começar com um “Querido diário...”, mas ele não era querido. Era meu testamento e fuga, julgamento e admissão, esperança e retrato da solidão que atrofiava meus músculos.

Apoiei-me na mesinha velha de minha avó materna e abri sua única gaveta, adornada por desenhos que me lembravam tribais de uma forma bem romântica. Dentro da caixa, cercada por papeis e lembranças, estava a pena antiga que procurava. Como encher o tinteiro eu já tinha em mente. Sentei-me no chão úmido e comecei o procedimento de dor reconfortante. Após um tempo, escrevi a primeira palavra. Não parei mais.

Meu prazo mostrava-se curto.

Suficiente.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Advento

Apenas a chegada.
Simples, ociosa.
Banhada com desdém, contudo, significativa.
Ou não.