domingo, 9 de maio de 2010

Status quo


Estou Amarga.
A saliva é a mais ácida das chuvas no céu de minha boca.
Céu de estrelas mortas por meus lamentos.

Sou mais fria e inerte que as pedras que guardo com zelo,
Mais dura que as árvores que toco,
Mais agressiva que o pássaro com tendências assassinas que crio.

Assemelho-me ao universo; mas ele, caridoso, não me supera.
Sou imbatível!
Contra mim, sempre perco as batalhas.

Encontro-me entre brumas, perdida na busca de minha Ilha particular.
Estática
Sem sensibilidade
Nadando em erros, esquecendo que não sei nadar.

Não posso clamar teu abraço,
Confabular nosso futuro entre os passos da juventude no final.
Não posso almejar nossos sussurros macabros,
Dialeto de dois estranhos unidos umbilicalmente.
Unidos por um fio de prata que nos conecta a quilômetros,
Permite o livre fluxo de energias... sem medo.

Na medida em que se desprende um pedaço de mim
um isômero afasta-se de ti, meu caro menino.
Assim sendo, fica difícil nos erguermos, não?

Creio em mudanças mesmo quando estou descrente de mim,
De meus murros em espinhos enferrujados
por minhas lágrimas - as mais básicas das tentativas de fuga,
as mais covardes das omissões.

Dessa forma tento seguir.
Com esses pés cansados, faço minha trilha na floresta dos riscos.
Às vezes em círculos,
Às vezes guiada pelo singelo progresso.

Tu és minha bússola,
Só preciso te encontrar com vida.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Subjugando o prosaico



És hermético ou finges?
Balbuciando-se incapaz, atormentando o são.

Algo percorre o labirinto interno, floresta de esferas vociferantes.
Desaveio sem validade, sem prévia, ponderação.

Timbres que dispersam a realidade sussurrando comandos imprudentes...
Saborear a iminência do caos!
O mais cuidadoso rapto de Proserpina.

Até que ponto a verdade alheia aproxima-se?

Ocultar é mais vantajoso que aparenta a água salgada que percorre a face e desidrata a alma.

Degustação

Mastigam minha indecisão, erros, obsessões, crises.
Engolem minha personalidade forte, chatice, irritação, mau humor.
Cospem o que há de melhor em mim.

sábado, 1 de maio de 2010

Castigo



Acordei em miséria pessoal.
Não, minto.
Transformei-me nela ao longo do dia vazio, desnudo, sem brisa.

O céu está tão limpo. Está desde agora lavado pelas lágrimas que derramarei em instantes.
É engraçado como meus olhos hoje descolorem a vida que desfila inconstante por mim, querendo ser notada.

Está quente, quero uma ventania. Quero uma tempestade, uma localizada para casar com meus sentimentos egocêntricos. Mas sem noite de núpcias. Quero que dure o bastante para me castigar. Abrir feridas profundas o suficiente para dilacerar os tecidos de minha alma.

Sem pesares, sem relevâncias.

Eu deveria estar fazendo algo útil.

Mais útil que sentar “ao ar livre” onde 34°C me sufocam e me desprovem do ar natural que vim buscar longe da realidade competitiva, desgastante e justa.

[...]

Pronto, voltei para ela.
Agora tudo muda.
Ambiente climatizado, legião de cerebelos desenvolvidos, sedentos por ter vez na escolha que o destino fará no final do ano.
Agora meus olhos estão menos embaçados, para não despertar a curiosidade alheia.
Se bem que já despertei ao usar uma camisa grande demais para mim, onde todos encontram escrita a frase “plante poesia”.
Pela primeira vez nesse ano não estou dando atenção a uma aula.
Estou a escrever até castigar os músculos que fazem meu garrancho surgir.
Eu mereço, esqueceu?
É a minha vontade. Livre e espontânea obrigação enquanto ser pensante.
Sinto dor. E dos mais variados tipos.
A dor física é a de menos importância, minha cabeça está habituada.
A psicológica me deixa com ânsias. Tenho nojo, nojo de mim.
É pela última que anseio meu castigo.