terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Diário




Diante do relógio, os minutos transformavam minha fome em agonia, meu sangue em tinta e meus devaneios em pó. Deu-me uma vontade irresistível de escrever. E seria com essa minha tinta vermelha e pulsante. Ela daria vida aos rabiscos que surgiam com os movimentos rápidos e desajeitados de minha mão direita. Por que não? Nada mais pessoal. Ela era o pouco que me restava. Literalmente pouco, como pude perceber com meus botões, enquanto um negrume escureceu minha vista, atordoando-me e oxidando meus pelos eriçados pelo frio. Aquilo deveria ser feito. E o mais rápido possível. Simples, direto, manual, sagaz: um diário.

Poderia começar com um “Querido diário...”, mas ele não era querido. Era meu testamento e fuga, julgamento e admissão, esperança e retrato da solidão que atrofiava meus músculos.

Apoiei-me na mesinha velha de minha avó materna e abri sua única gaveta, adornada por desenhos que me lembravam tribais de uma forma bem romântica. Dentro da caixa, cercada por papeis e lembranças, estava a pena antiga que procurava. Como encher o tinteiro eu já tinha em mente. Sentei-me no chão úmido e comecei o procedimento de dor reconfortante. Após um tempo, escrevi a primeira palavra. Não parei mais.

Meu prazo mostrava-se curto.

Suficiente.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Advento

Apenas a chegada.
Simples, ociosa.
Banhada com desdém, contudo, significativa.
Ou não.